Cansado de Eternidade

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Suicídio do Escorpião

De joelhos, suspenso sobre o chão cubro o rosto com o braço esquerdo.
Gritos histéricos de libertação ecoam dentro de mim!
A depressão é um julgamento pessoal feito com imparcialidade...
(A última linha da pressiana está aberta)
Serei louco?
As melhores metáforas de todos os nóbeis ficariam aquém do toque real e emocionado dos meus dedos no teu cabelo ondulado!

Os teus mistérios são doações de vida!
Serei um cadáver do olimpo?
(Já é dia. Com a luz a linha da pressiana parece a do horizonte)
O suicídio é a operação digna entre a soma de dias (vida) e a subtracção de dissabores (morte)...
Uma gargalhada paralisante destrói o meu tratamento facial!
De joelhos, suspenso sobre o chão encosto o revólver à cabeça com a mão direita.

Amo-te!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Último Dia

Era um cadáver apaixonado que descia a praça naquela noite.
Uma folha de Outubro largada ao vento, cujo destino se escondeu por entre os meus braços.
Foi o último dia da minha vida!
Último porque ela já não me pertence. É tua!

As insónias são a forma de te manter presente.
Cerrar os olhos tornou-se a única maneira de alterar aquele desfecho!
Sorrir a todo o instante o modo de me parecer contigo.
E amanha que dia será?

As minhas cinzas subirão a praça e a cor do semáforo há-de ser verde...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Carta de Novembro

Trazias a revolução no teu rosto libertário.
O cabelo, outrora estrangulado pelos cânones de beleza estabelecidos, soltara-se, ficando por isso refém do toque perturbado dos meus dedos.
Conhecias o fascínio que a simplicidade do teu nariz me suscitava desde o primeiro dia.
Os teus lábios curtos e finos espelhavam aquilo que sempre esperaste dos outros.
Mas se havia coisa que te distinguia era aquele sorriso solidário que esboçavas quando te dizia :"Amo-te!".

Não há dia que passe e não recorde a Revolução!
O que falhou?
Às vezes penso ter na minha caneta mais poder do que um revolver, uma lágrima, um beijo...
(No meu sangue fervilha o radicalismo do último olhar...)
Mas depois o espírito revolucionário esfume-se e não posso matar quem queria, chorar pelo que devia...
Beijar-te nunca pude... Os meus lábios carnudos sempre nos afastaram!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cansado de Eternidade

Só e cansado.
A morte é a estrada da eternidade!
(A Revolução falhou e só restam as ondas de maré baixa).
Deportado da vida, exilado dentro de mim...
Não consegues ver nos meus olhos o brilho desta hora?
O legado daquelas ondas é a espuma que se desintegra por entre os passos nervosos de uma criança!

Doentio, irreversivelmente depressivo.
A eternidade é a vida dos poetas mortos!
(Com a maré baixa a praia parece maior).
Dentro de mim vive exilado um exército de vida subordinada, desarmado, sem hierarquia...
Consegues sentir agora o peso que recai sobre os meus ombros?
A criança que percorre aquela praia não terá legado, porque ela é eterna!

Só, doente, depressivo e ainda vivo.
(É na maré baixa que morre a criança afogada).
Cansado de Eternidade!
Verás o meu cadáver no lugar da espuma das ondas de maré alta...

Adeus.

terça-feira, 23 de junho de 2009

O Filho da Morte

O meu problema sempre foi o absoluto!

No dia que nasci, a morte cumpriu-se em mim.
Gastaram-se as lágrimas duma só vez!
Senti saudades do futuro por não ter passado nem presente...
Quem tem o universo não precisa ter nacionalidade!
E quem a tem está preso perpétuamente dentro de si.
Daí os suicídios...
Amei inigualavelmente sem me apaixonar uma única vez!
Atingi logo aquele estado em que se quer o outro como um irmão, desejando-o carnalmente sem cessar...
Fui socialista antes de capitalista, revolucionário sem ser reformista...
Vivi numa sociedade sem classes sem conhecer a União Soviética!
Escrevi o infinito, humanizei o visionarismo e discursei perante multidões eufóricas ante o meu trajecto...
Fiz da utopia a verdade da Existência!

Ressuscitei e não me conformo com a relatividade das coisas...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Altruísmo

Sento-me no banco dos réus.
Réus são os que vivem a morte dos que amam!

O julgamento dá-se de dia, num jardim de raízes internacionais, para que durante a noite a natureza possa julgar cegamente.

Sento-me e espero a tragédia.
A minha direita uma tília europeia vulgar, afasta o olhar dos parentes da vítima.
Pela esquerda algo(uém) cujo nome, por mais que tente, não consigo descodificar.
(Parece-me australiana pela bandeira que hasteia.) Esconde-me da multidão que sem laços aparentes, acrescenta alguns adjectivos ao meu nome.
À minha frente a natureza: imponente como sempre, cosmopolita como nunca…
Atrás o passado – o meu cadastro!

A morte é um tsunami que se humaniza.
De início, quando a água apenas cobre timidamente os pés, o desconforto é grande, mas a catástrofe é inconsciente.
Depois o tempo passa, a água gela metade do corpo e aí sim… Percebe-se que a vida já não será a mesma.
Do tronco à cabeça a esperança dilui-se…

Da vontade de chorar. Mas as lágrimas invertem o seu trajecto.
Não seguem jorrando pelo rosto…
Deslizam interiormente, regam o coração, inundam a alma…
É o fim!

O tribunal recompõe-se e o ciclo continua…

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Socialismo Interior

deus perdeu-se em mim quando percebi que era subjugado pelo meu próprio espírito(a dimensão intelectual do Homem).
Não fazia sentido apelar auxilio, esperança, suplicar coragem,
Se esse alguém era o meu subconsciente, se era por isso,
Parte de mim.

Entendi que havia chegado a idade de me autonomizar...
Declarei-me unilateralmente independente do olimpo!

Aquilo que verdadeiramente importa é a emancipação interior ...
Guardar a fé que nos pertence por todo o corpo.
Dizer que o Homem é uno e indivisível,
Conquistar o Socialismo Interior!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Algum dia

Algum dia o mundo há-de perceber que, ainda que Mundo, não me vergo à sua supremacia!
EU sei por que devo lutar!
Vou pintar por todas as paredes o sumário da sentença que um dia lhe será ditada: (MUNDO-> HUMANIDADE-> PARIDADE-> VIDA-> FELICIDADE= UTOPIA)

E não temo a sua reacção...
Sei que, sem delongas, cobrirá tudo que pintei, do ponto de vista comercial, de publicidade.
E do ponto de vista político de propaganda eleitoral.
Acontece que nunca fez parte das minhas intenções ser empresário.
Acresce que apenas disputo eleições democráticas.
E quando falo em democracia não me refiro àquela em que todos votam, mas aqueloutra sem manipulações de índole comunicacional...
Poucas são as empresas que fecham portas por fraca produção.
Muitas cerram com cadeados inquebráveis os sonhos dos componentes do Mundo por escassos meios publicitários...
Nunca ninguém viu um analfabeto protestar contra a fixação de placares eleitorais, sem mensagens textuais, ideias-força…
Tão só com a imagem simpática e apelativa de um candidato...

Não há nada de invulgar, oculto, nas minhas palavras...
São, contudo, obscuras, ou pelo menos insusceptíveis de publicidade e de propaganda todas as sentenças que por esse locais inabitáveis da mente dos componentes do Mundo se assemelham à que aqui enunciei...

Um exército camuflado de vida subordinada tudo vai vigiando...
NÓS sabemos por que devemos lutar!
Algum dia o Mundo há-de perceber que, ainda que Mundo, nunca o será na plenitude sem cada um de nós!

Autonomia Transversal

Ninguém se preocupa em descrever a fúria interior do caracol.
Julgam a sua acção inconsequente,
A sua consciência de pertença ao Mundo inexistente,
O seu ódio inofensivo...
Entendem o seu refúgio por entre carapaça e a ontologia do seu trajecto (refúgio este verificável quer em momentos de solidão suicida, quer naqueles de mãos enlaçadas por amor) por medo da acção dos predadores que compartilham o seu universo vivencial.

Nenhum homem até hoje, cientista ou filósofo, lúcido ou idóneo, teve coragem de dizer que o caracol, em momentos da sua pacata existência, sente necessidade de se virar, literalmente, para dentro de si próprio, de modo a reflectir acerca da sua inserção no mundo.
É verdade que tudo isto é humanamente inobservável (e imperceptível a quem, como eu, apenas pensa na razão de ser do SER).
Não nego que a consideração da posição do caracol no planeta nos seja algo de indisponível.
O certo é que a sua integração em si próprio, sem necessidade de percorrer espiritualmente (ao contrário da nossa espécie) a interminável distancia entre o interior e exterior, não nos é incompreensível.

Tem-se dito, em debates promovidos pela minha consciência, que o caracol tem uma vida enfadonha, fruto da lentidão de processos que biologicamente o caracteriza.
Ouvi até por vezes dizer que o estilo de vida da generalidade dos caracóis é antiquado, conservador.

Tudo isto é mentira!

A sua vida serena e equilibrada é elemento de bem-estar.
O ócio que se auto-promove é felicidade propagada aos que, como eu, o seguem.
A desnecessidade de rapidez de movimentos é tranquilidade emocional.
Por tudo isto o estilo de vida do caracol é verdadeiramente revolucionário.

Finalmente, análise do caracol, tem levado muita gente a considerá-lo como um ser ignóbil, até mesmo imprestável.
Tudo o que evidencia a arrogância, prepotência da espécie racional, guia da destruição do mundo.
É indubitável que os líquidos libertados pelo caracol, não são algo de apreciável. Nem tão pouco as cenas de amor carnal, quando em vez por eles, publicamente, manifestadas.

Façamos, contudo, um esforço de reflexão acerca da governação que temos vindo a efectuar na área da protecção do nosso real bem escasso.
Pensemos na chuva que nos atinge pelo mês de Agosto, na imperceptibilidade de alguns lugares do planeta…
Tudo isto é banal. De tudo isto se fala hoje.
Nunca ninguém pensa é na humilhação que alguns comentários provocam ao caracol.

sábado, 29 de novembro de 2008

O erro teórico (o edifício doutrinal, ou estratégia política) de Marx?

“Marx nunca teve tanta razão como hoje!”. A frase é de Saramago e permitam-me que me associe ao seu teor. Na verdade, quase dois séculos passados e o fulgor das teorias marxistas permanece intacto social, política e cientificamente, não obstante as confusões doutrinárias (quantas vezes elevadas a científicas), as peripécias políticas (com gravíssimas consequências humanitárias), verificadas, essencialmente, durante o século XX e com resquícios no início de século XXI. O presente trabalho terá por objecto a reorganização dos princípios enunciados por Marx durante o século XIX, acerca da ciclicidade de sistemas económicos – e por consequência dos modos de produção - em três categorias distintas: Teoria; Doutrina; Política; As fontes deste trabalho são, quiçá, os dois principais instrumentos de meditação ideológica dos marxistas: O Capital e o Manifesto Comunista. Concluo apenas com uma última nota introdutória, mas de certo importante, acerca do meu posicionamento ideológico, para que não existam presunções, tão em voga hodiernamente, de cariz científico e por isso pretensamente de maior imparcialidade. Sou marxista de formação e de inspiração ideológica. Jamais tentarei elevar os pressupostos em que assentam as minhas ideias, à universalidade e imutabilidade próprias das ciências analíticas, mas já não das ciências sociais.

A- Enquadrando o que em cima se expôs, dir-se-á que destrinça entre Teoria, Doutrina e Política nos remete para meados do século XIX quando um alemão Rau em 1826 se debruçou pela primeira vez sobre o tema. Seguiram-se outros autores como Max Weber que sustentou a necessidade de manter distintos em sociologia e economia política os conceitos de doutrina e teoria. Em Portugal foi François Perroux, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, que em meados da década de 30, procedeu a uma clara e sintética distinção epistemológica entre as três categorias. Resumindo e simplificando os ensinamentos de Perroux temos que: a Teoria se reporta a “juízos de existência” que os indivíduos esboçam sobre a realidade, isto é, à avaliação que fazem sobre os a “verdade da realidade”(dos factos); a Doutrina refere-se, ao invés, a “juízos de valor” sobre a apreensão ou representação teórica da realidade, ou seja, premissas declaradas especificamente condicionadas pela concreta e pessoal concepção do Mundo; a Política incide, por sua vez, sobre “ juízos de adequação” teleológico-funcionais de meios ,concedidos pela teoria e determinados pela doutrina, quer dizer, aquelas declarações que embora teoricamente dependentes e doutrinalmente especificadas, se ligam à estratégia inerente à manutenção ou alcance do poder que a política sempre visa.
Em linhas gerais, constatamos que os três campos, embora diferentes, contêm traços que poderão, se o rigor faltar, confundir-se. Seguir-se-á o necessário enquadramento das ideias de Marx nestas três categorias.


B-
“ Na produção social da sua existência, os homens entram em relações determinadas, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um grau de desenvolvimento determinado das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção, constitui a estrutura económica da sociedade, a base concreta sobre a qual assenta uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência social determinadas. (...) Não é a consciência dos homens que determina o seu ser social; é, ao invés, o seu ser social que determina a sua consciência. Em certo estádio do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes, ou, o que é apenas a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham movido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas que eram, essas relações transformam-se em entraves desse desenvolvimento. Abre-se então uma época de revolução social. A mudança na base económica altera mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura. (...)”
Pode dizer-se hoje, com toda a propriedade, ter este excerto revolucionado por completo a forma de abordar as relações de produção, a economia política, em suma, a vida em sociedade. Preceito este, que conjugado com aquele que se refere no início do Manifesto Comunista “ A História de todas as sociedades até aos nossos dias é a história da luta de classes”, edificam a teoria económica do marxismo, até hoje expectante por uma superação real e efectiva.
Neste sentido temos: a) leis gerais válidas para todos os modos de produção; b) leis próprias de cada um dos modos de produção.

a)Nesta categoria encontramos a teoria segundo a qual se deverá verificar a correspondência necessária entre a natureza das relações de produção e o carácter das forças produtivas. Simplificando, se se verificar um desenvolvimento não uniforme ou desproporcionado entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção (se este for superior àquele), tal constituirá um entrave ao progresso do modo de produção. Se este problema se mantiver (como em geral se mantém) tal determinará a substituição do modo de produção, e consequentemente, do sistema económico vigente.

b) No modo de produção capitalista, a contradição reside sobretudo no carácter social das relações produção e na, paradoxal, propriedade privada dos meios de produção. A teoria de Marx vai no sentido de dirimir tal incongruência, aliando ao carácter social das relações de produção, a propriedade social dos meios de produção.(Socialismo)

É, com efeito, esta uma das principais teorias legadas pelo marxismo (para além da teoria do valor, da mais valia, da exploração do trabalho, da concentração capitalista, etc).
Releve-se o termo atrás referido “teoria”. Como no ponto anterior se concluiu, a teoria reporta-se a “juízos de existência” que os indivíduos esboçam sobre a realidade. É isso mesmo que se verifica na teoria mencionada. A realidade mostra que a opção por um determinado modo de produção, determina o regime político vigente e toda a produção legislativa subsequente (produção legislativa- por isso emissão de leis e não existência de uma autêntica Ordem de Direito que como se sabe se diferencia, nos limites, fundamentos e actuação das Ordem Jurídicas stricto senso) – Sistema Económico. De tal superestrutura, surgirá então um “padrão uniformizado de cidadãos” doutrinalmente apostados em defender o seu modelo teórico de sociedade e politicamente preparados (meios) de o fazer vigorar. “ A única via real pela qual o modo de produção e organização social que lhe corresponde caminham para a sua dissolução e a sua metamorfose é o desenvolvimento histórico dos seus antagonismos permanentes.”


C- As minhas dúvidas acentuam-se, multiplicam-se mesmo, quanto ao modo de combate ao capitalismo proposto por Marx. Este sugere a revolução social. Para tanto, sustenta que “ se atingiu actualmente o momento em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) não pode libertar-se do jugo da classe exploradora e dominante (a burguesia) sem se libertar ao mesmo tempo e definitivamente toda a sociedade de toda a exploração, de toda a opressão, de todas as diferenças de classes e de todas as lutas de classes”. Neste sentido, prossegue o autor, “ o proletariado servir-se-á da supremacia política para arrancar pouco a pouco o capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção entre as mãos do estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante (...). Naturalmente, isso só poderá efectuar-se, no início, por uma violação despótica do direito de propriedade (...), isto é, pela adopção de medidas que, economicamente, pareçam insuficientes e insustentáveis, mas que, no decurso do movimento, se ultrapassam elas próprias e são indispensáveis como meio de subverter completamente todo o modo de produção”.
Como se perceberá pelas considerações feitas no ponto anterior, os últimos dois excertos não se inserem no âmbito das teorias marxistas. Tentar fazê-lo constituiria um erro teórico irremediável, porquanto se afectaria o princípio metodológico que presidiu o trabalho de Marx e a “coerência histórica” que as sustem. Tratam-se, pelo contrário, de considerações doutrinais (“ atingiu-se actualmente o momento em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) não pode libertar-se do jugo da classe exploradora e dominante (a burguesia) sem se libertar ao mesmo tempo e definitivamente toda a sociedade de toda a exploração, de toda a opressão, de todas as diferenças de classes e de todas as lutas de classes.”) e de estratégia política (“ o proletariado servir-se-á da supremacia política para arrancar pouco a pouco o capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção entre as mãos do estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante (...). Naturalmente, isso só poderá efectuar-se, no início, por uma violação despótica do direito de propriedade (...), isto é, pela adopção de medidas que, economicamente, pareçam insuficientes e insustentáveis, mas que, no decurso do movimento, se ultrapassam elas próprias e são indispensáveis como meio de subverter completamente todo o modo de produção.”). Ainda que se possa concordar em geral com o juízo de valor (doutrina) emitido na primeira citação, já a segunda é alvo de inúmeras críticas. Em primeiro lugar, acelerar o processo de desmoronamento do capitalismo como princípio teórico constitui um tremendo erro, pois se se parte do princípio de que “ a única via real pela qual o modo de produção e organização social que lhe corresponde caminham para a sua dissolução e a sua metamorfose é o desenvolvimento histórico dos seus antagonismos permanentes”, se, portanto, esta teoria se verificou nos outros sistemas económicos que precederam o capitalismo (Comunismo Primitivo; Esclavagismo; Feudalismo;), não se perceberá qual o motivo para alterar neste sistema concreto, a ideia da “correspondência necessária entre a natureza das relações de produção e o carácter das forças produtivas”. Aceitar-se-á, indubitavelmente, como política estratégica, nunca como teoria (económica). Em segundo lugar, do ponto de vista político e estratégico, e sobretudo democrático dos nossos dias, é questionável a tese segundo a qual os oprimidos se deveriam tornar opressores e os opressores oprimidos. Ainda que se sustente e, por isso, se legitime, que os oprimidos são em muito maior número (maioria) e os opressores em menor número (minoria), nenhuma sociedade moderna se considerará democrática se se impuser a ditadura da maioria. A democracia tem, igualmente, o dever de salvaguardar as minorias, sejam elas políticas, religiosas, culturais ou étnicas e os seus interesses e aspirações. Em terceiro lugar, uma ideia conexionada com as duas primeiras. Os processos políticos de revoluções sociais com vista à antecipação da queda do capitalismo, constituíram eles próprios, entraves e retardaram, quer se queira quer não, o surgimento do Socialismo, enquanto sistema económico libertador. Tais processos, para além da imposição pelas armas, tiveram o defeito de revelar à sociedade uma imagem deturpada do Socialismo. Imagem que se justifica e compreende, uma vez que se não tinham verificado os requisitos necessários (“...o desenvolvimento histórico dos seus antagonismos permanentes.”) para a queda do capitalismo e o surgimento do Socialismo. Os movimentos pré-socialistas do século XX revelaram um modo de produção assente na redistribuição de miséria e não de riqueza como se espera, legitimamente do Socialismo. Numa palavra: gestão equitativa de pobreza.


A grande conclusão a tirar deste trabalho é, no fundo, aquela que vem distinguido os marxistas desde o século XIX, particularmente as diferentes organizações partidárias. Embora coexistam os princípios teóricos, a base ideológica, a divergência, residiu e continua a residir, na doutrina prevalecente e na estratégia política a adoptar para fazer face aos problemas que o capitalismo sempre, pela sua natureza, causa. Esta é, pois, a melhor resposta a uma crítica actual, segundo a qual determinadas forças políticas de esquerda não têm uma ideologia fortemente vincada. A ideia é esta: nesses partidos, não obstante a vinculatividade das teorias marxistas, diverge-se quanto à doutrina a adoptar (leninista, estalinista, trotskista, maoísta, etc), sendo certo que o edifício teórico de Marx prevalece. Outra divergência prende-se com a estratégia política a seguir. Se é verdade que uns tentam, no século XXI, sanar os problemas, com estratégia do século XIX, esboçada por Marx (Ditadura do Proletariado), outros têm vindo a desenvolver novas técnicas de combate político de cariz democrático. Uma coisa parece, no entanto, transversal: é necessário agir, reivindicar. E não há reivindicação credível que se não faça com alternativas, não meramente retóricas.
Tudo isto, partindo sempre do princípio que não existem estratégias políticas susceptíveis de conversão em teorias. E que não existem teorias científicas, no sentido de serem aproblemáticas, universais e imutáveis...

sábado, 1 de novembro de 2008

Essência

Deambulam pelas montanhas soldados isolados.
Cerca-me interiormente, invade-me sem resistência, o gregoriano dos seus cânticos.
E ao lenço branco que ergo, escuto o serenar da marcha de um exército propositadamente momentâneo.

Buscar a essência das coisas é descobrir a sua origem!
Desvendar o mistério da sua evolução,
A razão de ser que a despoletou.
Por isso a essência do Homem são os afectos.

Apoderam-se de mim soldados isolados.
Por cada elemento vital, autorizadamente, neutralizado,
Por cada estímulo sepulcral, enfim, revitalizado,
Sinto evolar-se o desejo de pertença à essência mundanal...

A minha essência é um grupo de soldados isolados, gregoriando e marchando alma fora!
É um exército definitivamente sem hierarquia...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Vertigens

Sinto vertigens quando me aprecio encostado ao muro que me separa do resto do universo.
Dá vontade de reunir as folhas perdidas e circundantes e com elas cobrir todo o meu corpo, como se possível fosse percorrer a distância que nos separa…
Entre a finitude e a infinidade.
Que segurança teria então o meu sono!
Quão real seria o meu sonho…
Unir a alma do Homem e o corpo da natureza!

E do vento forte que roubas as folhas,
Cessa a minha melancolia,
Dissipasse a dor de pertença á vida,
Evolasse o ideal da plenitude vivencial!

Escrevo do cimo do muro
E deixo o meu cadáver pelo chão, ao dispor do vento, propício aos abutres,
E nada mais me interessa que não vencer as vertigens!

Ver o Mar Revoltado

Ver o mar revoltado deste muro em ruínas,
Cotejando a bravura das suas ondas com a ferocidade do meu cenho,
Engrandece-me enquanto idealista desconhecido do momento triunfal…

O mar vê em mim a transição lógico para um mundo amplamente humanizante,
Sem precipitações à ordem natural do Homem e desprotegido incondicionalmente da diplomacia do Olimpo.
E o mar vem desde sempre manifestando a sua fúria, alternando a paz que o caracteriza, com o desgosto instrumentalizado por uma violência atroadora que lhe vão suscitando.

Eu sou o protegido do mar!
Se pensam que me vencem pela minha inexperiência, DESISTAM!
Eu tenho o poder de ruptura da juventude!
Não sou um muro em ruínas…

Um Carro já Velho com um Pneu Furado

Lá no fundo da minha rua,
Nesse fim de caminho onde toda a vida escondida se inicia,
Há um carro já velho com um pneu furado.

Há coisas que me revoltam profundamente e sem duvida que um carro com um pneu furado não é uma delas.
O que me aflige verdadeiramente é que toda a gente que lá passa (gente que não é cá da terra, mas que apenas se serve das vias de comunicação que o senhor presidente da junta inaugura) se nega a ver a realidade.
A realidade é um carro já velho com um pneu furado.
Nada mais!
Sendo ele já velho, danificado, que constrangimento poderá causar um simples olhar, um suspiro de pena, de inércia…
Um simples toque pela manhã, nos vidros trémulos para tentar ver a vida que nele ainda se esconde?

Todas essas pessoas, esses oportunistas da nossa junta rival,
Querem isso sim, vê-lo o quanto antes arremessado numa sucata perdida na História.
Um desses oportunistas da nossa junta rival, uma vez em tom de gozo, disse que o carro já velho com um pneu furado estava às portas da morte.
Bom, aí eu percebi toda aquela frieza, falta de compaixão…
Tentam empurrá-lo para as portas da morte, mas é contra a sua natureza passar por entre portas…

Por isso ele resiste!
Por isso de toda a resistência se há-de reiniciar, aparecida enfim do seu esconderijo, a vida!

Sou tudo!

Sou tudo!
A permanência indefinida e obscura do absoluto, da plenitude das coisas e da complementaridade das palavras…

Sou tudo!
O sorriso persistente que vence as lágrimas,
O beijo tórrido que embevece o maior dos românticos…

E do nada se faz tudo!

Soldado

Numa planície deserta, soldado, chora!
Deixa que as lágrimas soltem a tua amargura
E ergue com a espada os teus sonhos!
Esta é a hora por que anseias!

Como as lágrimas que vais enxugando,
Será esta a batalha mais transparente que travarás.
Levarás na tua espada a força capaz de vencer estigmas
E de te devolver à imortalidade dos teus antepassados!

Vence por ti!

Sede

Não sei de que zona do meu espírito vem este grito de revolta agonizada, de fúria intempestiva, ódio sem destinatário…
Sinto a cada momento a revolução que idealizo efectivar-se!
Aí os meus movimentos reaccionários incorporam-se naquele que fui e eu estagno.

Eu tentei tanto…
Acabei por consciencializar a indecifrabilidade dessa ruptura.
Agora eu sou o enigma!

VERTO A INDECIFRABILIDADE DO INCÓGNITO NO MEU DIA-A-DIA!
MATO A SEDE DE MUDANÇA, DO DESCONHECIDO…E MORRO COM ELA!

Socialismo Próprio

Mudo, adormecido, gritava o povo no decorrer do deu sonho pela liberdade interior que lhe roubavam…
Manifestações grandiosas, dessas que o nosso espírito vive, sem nunca nós, mera forma, sentirmos,
Enchem as ruas da nossa alma, erguem-se cartazes de euforia,
Entoam-se cânticos sem mensagem exterior ou ideais supérfluos!
Abraçam-se sem se conhecerem cérebro e coração!
Amam-se para sempre razão e emoção!

Juntos partilham o poder, encetam medidas corajosas,
Sanam-se conflitos individualistas e o povo vence!
E a vitória mais gloriosa é sempre aquela que dilui o pensamento utilitarista, pragmaticamente eficaz do Homem!

Pilham-se os bancos, rasgam-se as notas
E cobram-se com juros a fraternidade saqueada…
Rebate-se a fé divina com a real, vivida mas entorpecida fé do espelho humano!

Abaixo Estaline, Mao, Fidel…
Abaixo a atrocidade idealista!
Que homem algum, matando, se sirva do sonho…
Vivamo-lo!

Quero

Sonhando, vejo, perto, bem perto da minha confortável gruta,
Situada na planície da minha estagnação interior,
O penhasco altivo, premeditado da minha imaginação…

Quero correr sem tropeçar,
Quero brincar e não sou criança,
Quero viver caminhando para a morte!

Sou o trajecto perpétuo que se faz em marcha paraplégica até ao nada!

Por Ti!

Por cada lágrima que evito,
Um sonho teu se esmorece.
Por cada suspiro que rejeito,
Um sonho teu desaparece!

Porque as lágrimas são a vitalidade dos sonhos e os suspiros a razão da nossa união!
Por lágrimas sonhadoras…
Por suspiros de união…
Por ti!